Os filhos são sementes que precisam ser bem cultivadas, para que mais tarde os frutos apareçam. Criança que cresce sem referencial torna-se adulto problemático. E todos sofrem com isso. Assim, é importante que todo pai e toda mãe cuide para que a educação de seus filhos seja a melhor possível, evitando certas atitudes que podem atrapalhar esta empreitada. Recentemente li um livro que me ensinou muito sobre este assunto: “Famílias Restauradas”, do Padre Léo (editora Canção Nova). Nele, o autor apresenta dez atitudes dos pais que estragam os filhos. Abaixo, analiso cada uma e sugiro atitudes que ajudam os pais a agirem de maneira contrária.
Dar tudo o que eles querem
Quando uma criança recebe algo que não precisa fica com mais um peso para carregar. E quando enchemos demais a nossa barriga geralmente o mal-estar não tarda a aparecer. Já presenciei muitas cenas assim: o pai se nega a dar algo ao filho e, depois de um berro descontrolado daquele que pede, aquele que antes disse não muda rapidamente de ideia e agora diz sim. O adulto que deveria educar a criança para a disciplina, torna-se a criança que deseduca aquele que precisa aprender.
Os filhos precisam aprender desde cedo que tudo tem um custo. A roupa que usam para ir ao colégio precisa ser conservada porque custou o “suor” dos pais. O celular que pretendem ganhar de presente no final do ano poderá se tornar real, desde que cumpram determinadas regras até aquele dia chegar. E, quando os pais julgarem que algo não fará bem aos filhos, deverão – sem cerimônia – negá-lo. Chantagens só funcionam com quem cede uma ou mais vezes. Se os filhos compreenderem que tudo lhes é permitido, mas nem tudo lhes convém; entenderão que a felicidade está na renuncia de certas coisas, para alcançar outras melhores.
Achar graça quando dizem palavrões
Coisa triste uma pessoa que não controla sua língua! Falar palavrão é uma tremenda falta de educação, mesmo que isso seja desculpa para extravasar nossa ira. Ora, existem outras maneiras mais sensatas de direcionar nossa raiva. E os pais precisam ensinar seus filhos a educarem sua língua. Criança com “boca suja”, mais cedo ou mais tarde perderá o freio de suas palavras, e já não mais distinguirá aquelas que constroem daquelas que destroem.
Se a palavra é feia (palavrão) deve ser evitada. Se já pronunciada, o mais sensato é uma repreensão de leve para que novas repetições não aconteçam. Achar graça quando um filho diz palavrão é incutir nele a ideia de que isso é engraçado e por isso deve ser repetido a exaustão. E não me parece nada engraçado estar próximo de alguém que gasta sua saliva para pronunciar palavras de baixo calão.
Nunca dar orientações religiosas
Pais precisam falar de Deus a seus filhos, para ensiná-los a importância de ter fé. Jamais devem falar de pecado a uma criança, mas sim apresentar uma imagem de Deus que é Pai, que nos ama e quer o nosso bem. Se os pais não dão orientação religiosa a seus filhos, não conseguirão – mais tarde – despertar nestes o desejo de cuidar da sua espiritualidade como atitude essencial para quem quer viver bem em um mundo tão conturbado.
Atitudes simples, como se ajoelhar com o filho para fazerem juntos uma oração antes de dormir, trazem um significado tremendo na vida da criança.
Juntar o que eles deixam jogado e desarrumado
Aprendemos em casa como se comportar fora dela. Filho que faz bagunça e depois é recompensado com os esforços dos pais para desfazê-la, nunca crescerá. Tornar-se-á um adulto sem compromisso com a responsabilidade. Conheço muita gente assim. Pensam que as outras pessoas estão obrigadas a satisfazer seus caprichos e não cuidam para fazer as coisas bem feitas.
A disciplina da organização é fundamental para o crescimento moral de qualquer criança. Deixar os brinquedos jogados pela sala, não arrumar a cama depois de acordar ou nunca saber onde foi parar a outra meia são atitudes que devem ser reprimidas desde cedo, sob o risco de se criar um ser totalmente despreparado para suportar as responsabilidades que este mundo exige de nós.
Discutir e brigar na presença deles
Pais inteligentes deixam para discutir a relação bem longe de seus filhos. Não há nada mais danoso para os pequenos do que saber que seus pais estão brigando, discutindo por qualquer motivo. Assim, para a criança, é muito mais importante presenciar uma cena de carinho entre seus pais do que receber um beijo deles. Criança necessita sim de carinho, mas o maior carinho que podem receber é o afeto que percebe no relacionamento de seus genitores.
Quando a relação chega num ponto onde o diálogo não é mais possível, um dos dois precisa se afastar do lar para evitar maiores problemas. A criança cresce traumatizada quando se cria num lar desarmonioso. Como disse, brigas e discussões podem até ocorrer, mas os filhos nunca poderão ser plateia destes tristes momentos. A criança não pode ficar alienada, mas também não suporta crescer num lar desarmonioso.
Abarrotá-los de brinquedos, dinheiro, mimos e superproteção
Todo o excesso é danoso. Amor demais faz tão mal quanto amor de menos. Proteção demais, ao invés de proteger, faz é fragilizar. Pena que nem toda mãe (e às vezes também o pai) percebe isso. Abarrotam seus filhos com coisas desnecessárias, dão tudo o que as crianças pedem e jamais permitem que seus filhos andem com as próprias pernas, com medo de uma possível queda. Certamente não cairão quando crianças, mas também não saberão andar quando adultos. Estas mães super-protetoras transformarão seus filhos em adultos-crianças, incapazes de viverem a própria vida.
Conheço muitos filhos que foram vitimas desta maneira danosa de educar e sinto imensa tristeza por eles. Não vivem por si: são totalmente dependentes da opinião dos outros, quando não ainda estão presos à roda da saia de suas mães, que enfim conseguiram o que queriam, ou seja, gerar uma criança para si e não para o mundo.
Os filhos não pertecem aos pais. Repito: pai, mãe, seus filhos não são seus. Você os gerou e criou para que, assim como os passarinhos, eles pudessem bater asas e procurar seu próprio destino. Dói admitir isto, mas é para o próprio bem de seus filhos. Prender os filhos em casa, fragilizando-os para que nunca batam suas asas, é o jeito mais fácil de torná-los infeliz.
Sempre faço esta alerta aos pais que conheço: eduquem seus filhos para a independência. A dependência gera alienados. A dependência é o câncer da alma de toda pessoa que quer ser feliz. No momento em que o médico corta o nosso cordão umbilical, inicia-se o mais difícil mas também o mais transformador dos processos: libertar-se daqueles que nos gerou para encontrar o nosso espaço neste mundo. Isto é: se os pais deixarem…
Não exigir nada, satisfazer todos os seus desejos
Exija muito do seu filho, para que assim ele chegue a excelência. Pais relapsos criam filhos acomodados. Pais exigentes na medida sabem que dar tudo o que os filhos pedem não é a melhor forma de educá-los para a vida. Podem até presentear o filho, mas só quando este fizer por merecer. E desde cedo a criança aprenderá que na vida é assim: para colher é preciso semear. E semear às vezes é uma tarefa dolorida, mas que traz excelentes resultados.
Dar-lhes sempre razão, tomando sempre seu partido – desculpá-lo sempre
Criança também erra. E precisa saber quando erra. Não se trata de educar os filhos com tapas e bofetões, mas corrigi-los quando a situação passar do limite. Muitos filhos tornam-se imaturos, brutos e respondões porque tiveram pais negligentes na tarefa de impor limites. E mais tarde estes filhos mais parecerão pais de seus próprios pais.
Estar sempre ausentes, não acompanhar, acomodar-se, omitir-se
O pior castigo para uma criança é crescer sem a presença afetuosa de seus pais. É triste constatar que existem pais tão ocupados com a vida social que se esquecem da vida familiar. Quando chegam em casa distanciam-se daqueles que necessitam do seu carinho e privam os filhos da sua companhia.
Para os filhos, muito mais importante do que receber presentes é receber a presença dos seus pais. Saber-se amados e encontrar espaço para amá-los. Só se ama o que se conhece e muitos pais, infelizmente, não encontram tempo para que seus filhos os conheçam.
Nunca elogiar, não dar conselhos, não ter tempo e vingar-se
Receber elogios faz muito bem para o desenvolvimento psíquico da criança. Os conselhos, por sua vez, funcionam com setas para direcionar o caminho que os filhos devem seguir. Quando elogiada, a criança consegue aceitar com muito mais facilidade um conselho vindo dos seus pais.
É como ensina o famoso adágio: é mais fácil pegar a mosca com o mel do que com o vinagre. Um elogio, quando sincero, transforma a vida de qualquer pessoa. E desde cedo é preciso que os filhos saibam-se amados por seus pais. O elogio é uma ótima maneira de estimular as pessoas. Criança que ouve, por exemplo “você é um ótimo filho”, “você é muito inteligente”, “temos orgulho de você como filho”; crescerá com uma ótima autoestima, e isto lhe fará muito bem. Do contrário, tornar-se-á um adulto medroso, porque ninguém ousou acreditar em si.
Paulo Franklin